Desde fevereiro que a Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI), do Centro de Apoio Social do Porto (CASP), conta com a presença assídua da estagiária da licenciatura em Gerontologia da Escola Superior de Educação de Coimbra. O projeto de intervenção intitulado “Envelhe (SER)”, centra-se no desenvolvimento de atividades com os residentes da ERPI, colmatando assim a carência de um profissional exclusivamente dedicado a esta área.
Neste âmbito, tendo em conta as necessidades e interesses dos residentes: de ocupação, de estimulação e de bem-estar em geral, a aluna, fazendo uso dos conhecimentos académicos apreendidos e das suas próprias competências musicais, definiu um conjunto de atividades: FotoVoice; Oficina dos Sentidos; MusiCAS; PodCASP.
FotoVoice: Sendo uma forma de expressão através da fotografia, permite que cada residente fotografe algo que o faça recordar momentos relativos às diversas fases da sua vida (infância, juventude, idade adulta, velhice). Trata-se de uma atividade que não só permite ao próprio recordar, como dar-se a conhecer aos outros, fomentando assim as relações interpessoais.
Oficina dos Sentidos: Trata-se de atividades de estimulação dos sentidos, revelando-se especialmente interessante com os residentes que já se encontram física e cognitivamente muito dependentes. A título de exemplo, refira-se a feliz expressão de um residente ao cheirar a essência de rosas, que o transportou para uma pessoa, um tempo e um momento.
MusiCAS: Trata-se de uma atividade onde a Música é Terapia. É sabido que, com a música, há uma série de hormonas que são libertadas no nosso corpo e que, no nosso cérebro, várias partes do córtex cerebral são ativadas (Carolina, 2010). A Música que para todos/as parece ser uma experiência gratificante, tem, no entanto, suscitado reações diversas. Se para grande parte suscita reações muito positivas, de alegria e bem-estar, para outros parece ter sido um “gatilho” para desbloquear situações vividas no passado, sendo visíveis as manifestações de emoções/reações e reminiscências, até para aqueles residentes que já pouco reagem a estímulos.
Com os residentes mais autónomos, a música foi introduzida como uma forma de expressão universal, cujos benefícios se traduzem em sentimentos de harmonia e bem-estar. Em conjunto com os residentes menos autónomos, semanalmente faz-se a audição de música ao vivo tocada no violino e no piano, dando também aos mesmos a oportunidade de experimentar vários instrumentos de percussão.
O marido, acompanhado ao violino, canta à esposa uma das suas músicas preferidas, sendo evidente na expressão facial a reação que o momento provocou nesta.
A música foi ainda o mote para a constituição de um grupo coral, cuja estreia ocorreu no Dia Internacional da Mulher, com o tema “A desfolhada” de Simone de Oliveira.
Agora, uma vez por mês, o grupo tem a missão de participar ativamente na eucaristia celebrada na Capela do CASP.
PodCASP: Trata-se de uma atividade onde são gravadas discussões sobre temas variados, com recurso a convidados especiais. A primeira foi gravada a 04 de abril, e contou com os filhos de colaboradores do CASP, com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos. O tema em discussão foi “Os nossos ídolos”, concluindo-se que, nesta partilha intergeracional de saberes, o mais evidente são os benefícios que a presença das crianças tem no bem-estar dos mais velhos, mas também o impacto que a experiencia dos mais velhos tem nas crianças.
Expressões de alegria e de admiração dos mais velhos por relação às crianças e de surpresa e espanto, por parte destas em relação à experiência dos mais velhos, foi uma constante, quebrando, na prática, estereótipos associados à velhice.
Para a aluna, que em maio termina o seu estágio, a experiência vai para além do idealizado, pelo sentido de trabalho em equipa, pelo companheirismo e resiliência dos colaboradores, mesmo quando confrontados com situações tão diversas e adversas, já que cada dia é uma página em branco, mas o mais gratificante, são os sorrisos e a tranquilidade transmitida diariamente pelos residentes, o que significa que só podem estar bem…
Maria José Rodrigues (aluna de Gerontologia)
Isabel Varandas (orientadora local)